quarta-feira, 17 de julho de 2013
Inverno em Porto Alegre
Ela entra de casaco vermelho cereja, saia comprida, sapato preto e meia preta. Passa por nós resoluta, cabelo preso no coque meio solto. Escolhe a mesa da direita, próxima à calçada, sempre às 7 horas.
Vem trazendo um café a passos elegantes. Da bolsa, saca o maço de cigarros. Acende o primeiro e traga, tombando a cabeça e puxando fundo a fumaça. Solta tudo de uma vez, pelo nariz e pela boca. Desenha oitos no cinzeiro com as cinzas do cigarro quase inteiro que acabou de apagar. Em seguida, puxa o café como puxa o cigarro, e incomoda. Dois cachimbos de crack.
Os que estão de passagem olham com espanto, mas ela não os nota, ensimesmada até o infinito. Pega mais um cigarro, fuma, apaga e desenha. E assim vai repetindo o ritual, intercalando longas e intensas tragadas de cigarro e café, cigarro e café, cigarro e café, cigarro e café, até que o café termina - e o maço acaba.
Levanta num salto e atravessa a rua sem ver.
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